Sherazade disse:
Contaram-me, Rei, que quando o pescador disse ao gênio “Se tu
me tivesses conservado, eu teria te conservado, mas tu não quiseste
senão a minha morte, e eu te darei a morte, aprisionado nesse vaso,
e te deitarei ao mar! – então o gênio proclamou: “Imploro,
por Alá, que me poupes, sem me censurais demais pela minha ação,
porque eu, se fui criminoso, sê tu benevolente! Liberta-me e te serei
de grande utilidade num negócio que te fará rico para sempre.”
O pescador, após ter assegurado a boa fé do ifrit, abriu
o vaso. O ifrit tornou-se novamente o gênio de espantosa feiúra,
e deu um pontapé no vaso, atirando-o ao mar. O pescador, ao ver
aquilo, lembrou ao gênio: “Tu me prometeste e juraste que não
me trairias. Se me traíres, Alá te punirá.” O gênio,
ao ouvir aquilo, riu-se e disse ao pescador: “Segue-me.” Os dois andaram
até saírem da cidade, chegando num vaso ermo, no meio do
qual existia um lado. O ifrit então ordenou ao pescador que atirasse
sua rede e pescasse. O pescador olhou para a água e viu peixes brancos,
vermelhos, azuis e amarelos. Tendo retirado a rede, viu ter pego quatro
peixes, um de cada cor. O ifrit então orientou: “Dá esses
peixes ao sultão e ele te enriquecerá. Agora, por Alá,
recebe meu pedido de desculpas!
Quanto a ti, virás todos os dias pescar neste lago, mas uma
vez só por dia. E agora, que Alá te tenha sob sua proteção.”
E isso dizendo, o ifrit bateu os dois pés na terra, que se fendeu,
engolindo-o.
O pescador voltou a cidade, maravilhado com o que tinha acontecido.
Depois de passar em casa para deixar a rede, colocou os peixes numa panela
de barro e levou-os ao sultão, que ficou maravilhado com a qualidade
dos peixes. Disse então o sultão: “Que esses peixes sejam
entregues à nossa cozinheira.” Assim o vizir ordenou-lhe que fritasse
os peixes, dizendo-lhe: “Faz ver-nos hoje a prova de tua arte culinária,
porque o sultão acaba de receber um homem que lhe trouxe presentes!”
Tendo dito isso, o vizir se voltou, depois de ter feito suas recomendações.
O rei lhe ordenou que desse ao pescador quatrocentos dinares. O pescador
voltou para casa todo contente, indo comprar para os filhos tudo que podiam
necessitar. E eis a história quanto ao pescador.
Quanto ao que se refere à cozinheira, ela tomou os peixes, limpou-os
e arranjou-os na frigideira; deixou fritar de um lado e voltou-os para
o outro lado. De repente, a parede da cozinha se abriu e por ela entrou
uma jovem de talhe esbelto, faces cheias e lisas, qualidades perfeitas,
pálpebras pintadas de kajal negro, rosto gentil, corpo gracioso;
tinha sobre a cabeça um echarpe de seda, brincos, braceletes e nos
dedos anéis com pedras preciosas. Aproximou-me metendo uma varinha
de bambu na frigideira, dizendo: “Ó peixe, tu continuarás
a manter tua promessa?” Vendo aquilo, a escrava desmaiou e a jovem repetiu
a pergunta pela segunda e terceira vezes. Então, todos os peixes
levantaram a cabeça de dentro da frigideira e disseram: “Oh, sim!
Sim!” Depois entoaram em coro: