O lobo e o cordeiro

La Fontaine
 
Melhor razão foi sempre do mais forte;  
Já o ponho em pratos limpos.  
Na clara veia d'um regato a sede  
Um cordeiro matava.  
Chega esfaimado um Lobo, andando a corso  
(Lobo) Quem te deu auso (diz em raiva aceso)  
De vires enturvar a água que eu bebo? 
(Cord.) Oh não se agaste Vossa Majestade,  
Mas antes considere,  
Que além de passos vinte, estou mais baixo,  
Bebendo na corrente 
E não posso turvar-lhe, em conseguinte, 
Por modo algum a veia aonda bebe. 
 

(Lobo) Que a enturvas digo: e sei que o ano passado  
Disseste mal de mim. 
(Cord) Como o podia 
Eu, que nato não era; eu, que ainda mamo? 

(Lobo) Pois disse-o teu irmão, se o não disseste. 
(Cord.) Não tenho irmão. 
(Lobo) Pois disse-o um teu parente. 
Que vós, e vossos cães, vossos pastores, 
Nao me poupais em ditos 
Ouvi-o a muitos; tenho de vingar-me. 
- N'sto, ao cerrado mato o leva o Lobo; 
sem mais processo o come.