Divina Comédia
Dante Alighieri
 

eu autor e o genial Dante Alighieri, nascido em Florença (1265) e falecido em Ravena, no exílio, em 1321. o imortal cantor de Beatriz estilizou sua epopéia numa nova espécie de gênero literário, por ele criada: o terceto. A obra é uma trilogia o inferno, o Purgatório e o Paraíso. o poeta diz que, tendo se perdido numa floresta sombria, encontra Virgílio, a quem pede auxílio.

"Nel mezzo del camin di nostra vita
Mi ritrovai per una selva oscura,
Che la diritta via era smarrita." (I, 1-2-3)

Virgílio o conduz, então, ao Inferno, em cuja a porta se lia a terrível inscrição:

"Laseiati ogni speranza, voi ch'entrate!"

No primeiro ciclo, denominado Limbo, estavam as almas dos bons e justos, mas que viveram antes do Evangelho e, que, não tendo recebido o batismo, não puderam ingressar no Paraíso. Lá estavam, entre outros, Sócrates, Platão, Homero, César e muitos outros filósofos reis, poetas e artistas, enfim, todos os ilustres pagãos. No segundo ciclo ou círculo, jaziam aqueles que foram condenados pelos pecados da carne, pela luxúria ou concupiscência. Pertence a esse ciclo a desditosa história da linda Francesca da Rimini, que narra ao poeta os seus pecados de amor. o episódio está no canto V, no qual a infortunada paixão, que ligou Francesca ao seu cunhado Paolo Malatesta, é descrita com notável e sentida urdidura trágica pela pena  do grande vate italiano. o amor de Francesca tão grande era, que nem ali pudera se acabar:

"Amor, che a nullo amate amar perdona,
Mi prese del costui piacer si forte,
Che, come vedi, ancor non m'abbandona." (V, 103)

E diz ao poeta a desventurada: "Ed ella a me: "Nessun maggior dolore Che ricordarsi del tempo felice Nella miseria; é ciò sa il tuo dottore. " (V, 121). Ainda nesse ciclo estão as almas de Semiramis (rainha lendária da Assíria, esposa de Nino), Cleópatra, Helena, Aquiles, Páris, Tristão e Dido. No 3 ciclo vê-se Cérbero, o cão de três cabeças, dilacerando com os dentes as vítimas da gula. No quarto ciclo estão os condenados pelo mau uso da riqueza, sejam os perdulários, sejam os usurários. No 5 ciclo, revolvem-se em lama imunda, enquanto se atacam furiosamente os que foram punidos pela ira. Os hereges, encarcerados em sepulturas de fogo, são os moradores da sexta região. Na sétima, encontram-se os tiranos e assassinos, submersos num rio de sangue; os suicidas transformados em árvores, entre as quais andam horripilantes harpias: os que violaram Deus e a Arte; enfim, nele estão os violentos. No oitavo ciclo, está a Fraude, de rosto humano e corpo de monstro punindo os aduladores, os hipócritas, os farsantes. No nono vê-se a morada dos traidores, tendo ao fundo Lúcifer, que ostenta três rostos: o da impotência o do ódio e o da ignorância. As suas bocas despedaçam três monstros humanos: Judas Iscariotes, Bruto e Cássio (estes dois últimos assassinos de César)

Demandam a seguir o Purgatório. São recebidos por Catão e Virgílio, obedecendo às suas ordens, lava o rosto do poeta com orvalho, para limpar-lhe a fumaça do inferno. No primeiro socalco do Purgatório, os espíritos proclamam a vaidade das glórias terrenas e vozes dulcíssimas entoam: "Bem-aventurados os pobres de espírito" Eram as almas pecadoras por culpa da soberba No Purgatório todas as almas estão exaustas devido ao peso de enormes pedras. No segundo socalco acham-se os cegos, pois tinham as pálpebras cosidas,  -  eram os invejosos; no terceiro, os que pecaram pela cólera; no quarto, os que haviam caído por indiferença e preguiça; no quinto, os avarentos; no sexto, os gulosos, que sofriam fome e sede, aspirando a fragrância de frutos apetitosos; no sétimo e último, os incontinentes, que enalteciam a castidade.

Virgílio conduz Dante até uma muralha de fogo, que nem sequer o chamuscou. No alto fica o Paraíso. Ali o Mantuano se despede, e Beatriz toma-lhe lugar como guia. No Céu, diz ter sido o poeta testemunha de maravilhas que não  pode a língua humana descrever. Após invocar Apolo, o poeta descreve como se ergueu do Paraíso terrestre a esfera de fogo, Segundo as teorias de Ptolomeu, a terra é fixa, e em volta dela, giram os céus da Lua (primeiro céu), Mercúrio ( (2), Vênus (3), Sol (4), Marte (5), Júpiter (6) e Saturno (7). Ainda há o oitavo céu, que encerra dentro de si, todos os demais, pois em seu bojo havia a esfera das estrelas fixas. No primeiro céu, Dante sustenta interessante discussão com Beatriz a respeito das manchas da lua. No segundo, encontra o imperador Justiniano, que lhe explica ser Mercúrio a morada das almas boas, cujo amor a Deus estava, contudo, misturado com os afetos terrenos. No terceiro, depara-se com a famoso Carlos Martel, rei da Hungria. e também com Folco que tivera a coragem de censurar papas e cardeais. No quarto está Santo Tomás de Aquino, que faz o panegírico de Sao Francisco de Assis. Conversam ali também com São Boaventura e Salomão. No quinto céu ou Marte, entretém Dante colóquio com um antepassado seu, que lhe prediz o futuro desterro; no sexto, em Júpiter, depara-se a morada dos que souberam administrar justiça com retidão no sétimo, em Saturno, estão as almas que passaram a existência em piedosa contemplação S. Bento dirigiu-se ao poeta, lamentando a vida dissipada daqueles monges, que usavam seu nome. Ao erguer os olhos, contemplou o poeta esplendores inefáveis, ouvindo a harmoniosa melodia do 'Regina Coeii". S. Pedro, S. Tiago e  S. João interrogaram-no sobre questões de fé, no que se saiu bem. Finalmente, foi alçado até o oitavo céu, no qual só habita a Divina Essência. Graças à  intervenção de S. Bernardo, o poeta pode contemplar a Deus em todo seu esplendor, visão de tal doçura que as palavras humanas não na podem traduzir:

''Oh, quanto è corto il dire e come floco
Al mio concetto! E questo, a quel ch'io vidi, tanto, che non basta a dicer "poco". "  Paraíso, C. 33, 121)

A "Divina Comédia", na sua grande extensão de l00 cantos (34 para o Inferno; 33 para o Purgatório e 33 para o Paraíso), é a grande epopéia medieval. É um repositório de conhecimentos enciclopédicos, em relação à época. A física, a filosofia, a teologia, a geografia, a história, a política, a religião, — todas repontam na narrativa de Dante. Em verdade, constitui uma grandiosa súmula da arte e saber medievais, na qual Virgílio simboliza a razão e a filosofia, e Beatriz, a teologia e a fé.