A MORTE E O DESGRAÇADO
La
Fontaine
De feixes de Montano assoberbado
Pobre Matteiro, que co'a carga verga
Vinha gemendo, a passos mal seguros,
Em busca da palhoça fumarenta.
Mais nao podendo já, débil,
anciado,
Deita os feixes no chão, recorda
penas.
(Mat) Soube eu, desde que hei nascido,
o que era gosto?
Há quem mais pobre que eu, no mundo
seja?
Nunca hora de descanso, e o pão
nem sempre!
Mulher, filhos, tributos e soldados
Credor, lavor sem paga
São a pintura cabal d'um desgraçado.
A Morte chama, - e a Morte não
remacha; -
Ei-la - a que lhe pergunta:
(Morte) Que desejas de mim?
(Mateiro) Que me ajudes, e muito diligente,
A por-me às costas estes feixes
todos...