Juventude, juventude, pensa na grande obra que te espera, eu te suplico! Tu és o operário, que haverás de edificar os cimentos do século próximo, que, com certeza, virá necessitado de resoluções para os grandes problemas da verdade e da igualdade, pranteados pelo século que se acaba; nós, os maiores, te deixamos o imenso acúmulo de nossas investigações, muitas contradições e talvez obscuridades, mas com toda a certeza te deixamos o esforço mais apaixonado que século algum empreendeu para a consecução da verdade: os documentos mais verídicos e o mais sólido fundamento desse vasto edifício da ciência, que tu deves continuar a erigir para a tua honra e a tua felicidade. Só te pedimos, juventude, que sejas mais generosa, mais livre espiritualmente, que nos sobrepujes por teu amor à vida normalmente vivida, por teu esforço posto inteiramente no trabalho, nesta fecundidade dos homens e da terra, que redundará na transbordante colheita de alegria sob o sol radiante.
Nós te cederemos fraternalmente o século, felizes em desaparecer,
em poder descansar dos labores devidos à nossa parte, do dever cumprido,
e plácido será nosso repouso na morte se soubermos que tu
continuas nossa obra e realizas nossos sonhos.
Juventude, juventude! Lembra-te dos sofrimentos de teus pais, das duras
batalhas em que se empenharam para conquistar a liberdade que agora desfrutas.
Se te sentes independente, se podes ir e vir a teu gosto, se podes dizer
na imprensa o que julgas direito, se podes ter uma opinião
e a expressar publicamente, é porque teus pais para isso deram sua
inteligência e seu sangue...
Juventude, juventude! Inclina-te sempre diante da justiça, porque,
se a idéia de justiça em ti se obscurece, todos os perigos
passarão a ameaçar-te. E não te falo da justiça
dos nossos códigos, que outra coisa não são que a
garantia dos laços sociais. Certamente há de respeitar também
essa justiça; mas existe uma idéia mais elevada de justiça:
a que tem por princípio o fato de que todos os homens estão
sujeitos ao erro, a que admite a possível inocência de um
condenado, sem acreditar que por isso se insulta aos juízes. Não
é este um assunto que deve suscitar tua paixão ardente de
direito? Quem se levantará para exigir que se faça justiça,
que não estás em nossas lutas de interesses pessoais, que
não estás comprometido por nenhum negócio ambíguo
e podes pois falar alto, com toda a pureza e boa-fé?