e vou contar uma história,
pra que a repitas a algum amigo, quando este ande de azar.
Cevei com mais lentidão. Meu padrinho começou o relato:
- Isso foi no tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo e seus apóstolos.
Fiquei um pouco à espera. Dom Segundo fazia-me entrar, assim,
num reino de ficção. Íamos viver no fio de um relato.
Sairíamos de uma parte para outra. De onde e para onde?
- Nosso Senhor, que, segundo dizem, foi o criador da bondade, costumava
andar de povo em povo, de rancho em rancho, pela Terra Santa, ensinando
o Evangelho e curando com palavras. Nessas viagens levava de ajudante a
São Pedro, a quem muito e muito amava, por crente e serviçal.
Contam que numa dessas viagens, que na maioria eram duras como as de tropeiro,
como estivessem para chegar num pueblo, a mula em que ia Nosso Senhor perdeu
uma ferradura e pegou a manquear.
“- Repara” – disse Nosso Senho a São Pedro – “se não
vês uma ferraria, que já estamos entrando no pueblo.” São
Pedro, que ia olhando com atenção, divisou um rancho velho
de paredes rachadas, que tinha em cima da porta um letreiro que dizia:
FERRARIA. No mesmo instante, avisou ao Mestre e pararam em frente da mangueira.
“-Ave Maria!” – gritaram. E seguido de um guaipequinha lavrador, apareceu um velho farrapento, que os convidou a descer.
“- Boas-tardes” – disse Nosso Senhor. – “Poderias ferrar minha mula, que perdeu a ferradura de uma pata?”
“- Apeiem-se e passem pra dentro” – respondeu o velho. – “Vou ver se posso servi-los.” Quando já na sala se acomodaram numas cadeiras de pés quebrados e torcidos, Nosso Senhor perguntou ao ferreiro:
“ – E qual é teu nome?”
“- Me chamam Miséria” – respondeu o velho, e se foi buscar o necessário para servir os forasteiros. Com muita paciência andou esse servidor de Deus farejando em seus caixões e sacos, sem achar nada. Abichornado ia voltar pra pedir desculpas aos que estavam esperando, quando revolvendo com a bota um montão de ciscos e restos, viu uma argola de prata, grandota.
“ – Que está fazendo aqui?” – le disse e pegando nela se foi pra onde estava o fogão, prendeu o fogo, derreteu a argola, fez a martelo uma ferradura e pôs na mulinha de Nosso Senhor. Velho sagaz e ladino!
“- Quanto te devemos, bom homem?” – perguntou Nosso Senhor. Miséria
olhou-o bem de cima a baixo e quando acabou seu exame, disse:
“- Pelo que vejo, vocês são tão pobres como eu.
Que lá vou eu cobrar? Vão em praz pelo mundo, que algum dia
talvez Deus se lembre de mim”.
“- Assim seja” – disse Nosso Senhor e, depois de se terem despedido,
montaram os forasteiros nas suas mulas e saíram de sobrepasso. Quando
iam longinho, disse a Jesus esse São Pedro, que devia ser meio lerdo:
“- Na verdade, Senhor, somos mal-agradecidos. Esse pobre homem nos
ferrou a mula com uma ferradura de prata, não nos cobrou nada, por
mais que seja pobre, e nós nos vamos sem le dar sequer uma prenda
de amizade.”
“- Dizes bem” – respondeu Nosso Senhor. – Vamos voltar até sua
casa, para conceder-lhes três graças,que ele terá direito
de escolher.” Quando Miséria os viu chegarem de volta, pensou
que a ferradura se tinha desprendido e os fez entrar como dantes. Nosso
Senhor le disse para que vinham e o homem olhou de soslaio, meio com vontade
de rir-se, meio com vontade de disparar.
“- Pensa bem” – disse Nosso Senhor – “antes de fazer teu pedido”. São
Pedro, que se tinha acomodado atrás de Miséria, soprou:
“- Pede o Paraíso.”
“- Cala-te, velho” – respondeu baixinho Miséria, para depois
dizer a Nosso Senhor:
“- Quero que o que se sente na minha cadeira, não se possa levantar
dela sem minha licença.”
“ – Concedido” disse Nosso Senhor. “ Vamos ver a segunda graça.
Pensa com cuidado.”
“- Pede o paraíso” – voltou a soprar-lhe de trás São
Pedro.
“- Não te queres calar, velho idiota?” – respondeu Miséria
incomodado, para depois dizer a Nosso Senhor:
“ – Quero que o que suba nas minhas nogueiras não possa descer
delas sem minha licença.”
“ – Concedido” disse Nosso Senhor. “ Vamos ver a terceira e última
graça. Não de apures.”
“ – Pede o paraíso, teimoso!” Soprou de trás São
Pedro.
“ – Cala-te, velho metido” – respondeu baixinho Miséria, pra
depois dizer a Nosso Senhor:
“ – Quero que o que se meta na minha tabaqueira não possa sair
dela sem minha licença”.
“ – Concedido” – disse Nosso Senhor e, depois de despedir-se, saiu.
E Miséria, nem bem ficou só, começou a matutar e,
pouco a pouco, lhe foi entrando raiva por não ter sabido tirar mais
vantagem das três graças concedidas.
“ – Também serei besta!” – gritou, atirando contra o chão
o chambergo. – “Que, se agorinha mesmo me aparecesse o demônio, le
daria a alma, com tal que le pudesse pedir vinte anos de vida e dinheiro
à vontade.” Nesse momento se apresentou na porta do rancho um cavaleiro
que lhe disse:
“ – Se queres, Miséria, de posso apresentar contrato, dando-te
o que pedes.” – E foi logo puxando um rolo de papel, com escrituras e números,
o mais bem embrulhado que trazia no bolso. E ali leram juntos as letras,
e estando conformes no trato, firmaram os dois com muito pulso, em riba
de um selo que tinha o rolo.
- Rebentou o laço a égua! – comentei.
- Agora vais ver, deixa-te ficar calado para saber como termina a história.
Olhando em redor a noite, como para não perder contato com a
nossa existência real, e meu padrinho prosseguiu:
Mal o diabo se foi e Miséria ficou só, tateou a bolsa de ouro que lhe tinha deixado o Mandinga, se olhou no tanque dos patos, onde viu que estava moço, e se foi ao pueblo comprar roupas, pediu quarto na hospedaria como senhor, e dormiu esta noite contente. Amigo! Era de ver como mudou a vida desse homem. Andou com príncipes e governadores e alcaides, jogava como ninguém, nas carreiras, viajou por todo o mundo, teve amores com filhas de reis e marqueses... Mas bem dizem que ligeiro se passam os anos quando se leva essa vida, de modo que passou o ano vigésimo e num momento casual em que Miséria tinha vindo se rir de seu rancho, se apresentou o diabo com o nome de Cavaleiro Lili, como da vez passada, e descascou o contrato para exigir o pagamento do ajuste. Miséria, que era homem honrado, ainda que meio tristão, disse a Lili que esperasse, que ia lavar-se e por uma boa roupa para se apresentar ao inferno como devia. Assim fez, pensando que no fim todo laço se rebenta e que sua felicidade tinha terminado. Quando voltou, achou Lili sentado na sua cadeira, esperando com paciência.
“ –Já estou pronto” – disse -, vamos indo?”
“ – Como havemos de ir” – respondeu Lili – “se estou grudado nesta
cadeira como por encanto?!” – Miséria se lembrou das virtudes que
lhe tinha concedido o homem da mula e caiu numa gargalhada tremenda.
“ – Levanta-se, pois, maula, se és diabo” – disse a Lili. Debalde
este quis corcovear na cadeira. Não se pôde levantar nem um
tiquinho e suava olhando Miséria.
“ – Então” le disse o que foi ferreiro – “se queres ir, firma-me
outros vinte anos de vida e dinheiro à vontade”. O demônio
fez o que pedia Miséria, e este le deu licença para que se
fosse. Então, outra vez o velho remoçado e endinheirado voltou
a correr mundo: andou com príncipes e graúdos, gastou dinheiro
como ninguém. Mas os anos pra quem se diverte voam logo, de sorte
que, passando o vigésimo, Miséria quis cumprir sua palavra
e rumou pros pagos da sua ferraria. A todas essas, Lili, que era meio linguarudo
e alcagüete, tinha contado aos infernos o encanto da cadeira.
“ –Hai que andar de olho alerta” tinha dito Lúcifer. – “ este
velho está protegido e é sabido. Dois serão os que
le vão buscar no fim do trato.” Por isso foi que, ao apear-se no
rancho, Miséria viu que lhe estavam esperando dois homens, e um
deles era Lili.
“ – Passem adiante; sentem-se” – disse - , “ enquanto me lavo e me
visto pra entrar no Inferno como convém.”
“- Eu não me sento – disse Lili.
“ – À vontade. Podem passar pro pátio e colher umas nozes,
que certamente serão as melhores que terão comido nas suas
vidas de diabos.” Lili não quis saber de nada; mas quando se acharam
sós, seu companheiro disse que ia dar uma volta por debaixo das
nogueiras pra ver se achava no chão alguma noz caída e provar.
Daí a pouco no mais voltou dizendo que tinha achado uma parelhazita
e que comendo ninguém podia negar que fossem as mais gostosas do
mundo. Juntos se foram pra fora e começaram a procurar sem achar
nada. Com isso foi crescendo água na boca do diabo amigo de Lili
e ele disse que ia subir na árvore para continuar papando as nozes.
Lili que avisou que devia desconfiar da coisa, mas o guloso não
fez caso e subiu na árvore, onde começou a engolir sem descanso,
dizendo de tempo a tempo:
“ – cha que são boas! Cha que são boas!”
“ – Atira-me umas” gritou Lili de baixo.
“ – La via uma” – disse o de arriba.
“ – Atira-me umas quantas” – tornou a pedir Lili, nem bem comeu a primeira.
“ – Estou muito ocupado” – respondeu o comilão. “ Se queres
mais sobe na árvore.” Então Lili, depois de matutar um pedaço,
subiu. Quando Miséria saiu do quarto e viu os dois diabos nas nogueiras,
caiu numa gargalhada tremenda.
“ – Aqui estou às suas ordens” Gritou. “Vamos quando vocês
queiram”.
“ – É que não podemos descer” – responderam os diabos,
que estavam grudados nos galhos.
“ – Lindo!” – disse Miséria. – Então firmem outra vez
o contrato, dando-me outros vinte anos de vida e dinheiro à vontade.”
Os diabos fizeram o que Miséria lhes pedia e este lhes deu licença pra descerem. Miséria tornou a correr o mundo, gastou dinheiro, teve amores... Mas os anos pegaram a disparar, como de já antes, de modo que, ao chegar ao vigésimo, Miséria, querendo dar paga à sua dívida, se lembrou da ferraria em que tinha sofrido. E a todas essas os diabos, nos infernos, tinham contado a Lúcifer o sucedido e este, brabão, tinha dito:
“ – Caramba! Não les preveni que andassem com jeito, que o homem
era sabido? Esta vez agora, vamos ir todinhos juntos pra ver se nos escapa!”
Foi por isso que Miséria, ao chegar ao rancho, viu mais gente reunida
que numa cancha de taba. Mas essa gente, acomodada como um exército,
parecia estar às ordens de um mandão de coroa. Miséria
pensou que o próprio inferno tinha se mudado para sua casa e chegou
olhando como pato o arreador, aquele povaréu de diabos.
“Se escapo desta” – disse – “garanto que nunca mais me pegam”. Mas,
se fazendo de muito sonso, perguntou àquela gente:
“ – Querem falar comigo?”
“ – Sim” – respondeu, forte, o da coroa.
“ – Contigo” – retrucou Miséria – “não firmei contrato
nenhum, para que velha acender velas neste enterro.”
“ – Mas vais me seguir” - gritou o coroado-, “porque sou o Rei
dos Infernos.”
“- E quem é que me prova?” – alegou Miséria. – “Se você é quem diz, há de poder com certeza fazer que todos os diabos entrem no seu corpo e virem formiga.” Outro teria desconfiado, mas dizem que aos maus sabe perder a raiva e o orgulho, de modo que Lucifer, cego de furor, deu um grito no mesmo momento tomou a forma de uma formiga que levava dentro todos os demônios do Inferno. Sem perder tempo, Miséria agarrou o bichinho que caminhava nos ladrilhos do piso, lo meteu na tabaqueira, se foi pra ferraria, la colocou sobre a bigorna e, com um martelo, se agachou a bater-le com toda a alma, ate que a camiseta se empapou de suor. Então se refrescou, se mudou e saiu a passear pelo pueblo. Haja bem, velhinho sagaz! Todos os dias ele colocava a tabaqueira na bigorna e pespegava-le tamanha sova que empapava a camiseta e depois saía a passear pelo pueblo. E assim se foram os anos. E aconteceu que no lugar não houve mais brigas, nem questões, nem alegações. Os maridos não castigavam as mulheres, nem as mães os filhos. Tios, primos e enteados se entendiam como Deus manda; não saíam as almas penadas nem a mula-sem-sabeça, não se viam fogos-fátuos e os doentes sararam todos; os velhos não morriam mais e até os cachorros foram decentes. Os vizinhos se entendiam bem, os baguais não corcoveavam mais que de alegria e tudo andava como relógio de rico. Quê! Nem precisava baldear os poços porque toda água era boa.
–Ahã – hã – apoiei alegremente.
- Sim, argüiu meu padrinho – não te vás apressando. Assim como não há cantinhos sem tropeços, não há sorte sem desgraças e veio a suceder que advogados, procuradores, juízes de paz, curandeiros, médicos e todos os que são autoridade e vivem da desgraça e vícios da gente, começaram a ficar murchos de fome e morrendo. E um dia, assustados, os que sobraram desta mortandade se dirigiram pro governador, pedindo ajuda pelo que sucedia. E o governador, que também estava no rol dos castigados, les disse que nada podia remediar e les deu um dinheiro do estado, chamando a atenção que era a única vez que fazia isso, porque não era obrigação do Governo andar ajudando. Passaram uns meses e já os procuradores, juízes e outros bichos iam mermando por terem na maioria passado desta pra melhor, quando um deles, o mais pícaro, veio da desconfiar da verdade e convidou a todos pra que voltassem à casa do governador, prometendo que ganhariam a questão. Assim foi. Quando chegaram na frente do mandatário, o procurador disse a sua excelência que todas essas calamidades aconteciam porque o ferreiro Miséria tinha encerrado na sua tabaqueira os diabos do Inferno. Ali mesmo o mandão mandou trazer Miséria e, na presença de todos, le soltou este discurso:
“ –Ah, então és tu? Bonito, andas botando o mundo com
tuas bruxarias e encantos, velho indigno! Agora mesmo vais deixar as coisas
como estavam, sem te meteres a redimir culpas, nem castigar diabos. Não
vês que, sendo o mundo como é, não se pode evitar o
mal e que as leis e doenças e todos os que vivem delas, que são
muitos, precisam que os diabos andem pela Terra? Agorinha mesmo vai a trote
e larga os Infernos da tua tabaqueira.” Miséria compreendeu que
o governador tinha razão, confessou a verdade e foi-se pra casa
cumprir a ordem. Já estava por demais velho e aborrecido do mundo,
de modo que ir-se pouco le importava. “Em seu rancho, antes de soltar os
diabos, pôs a tabaqueira na bigorna, como costume, e pela última
vez deu uma boa sovada, até que a camiseta le ficou empapada em
suor.
“ – Se les largo vão andar chateando por aqui?” – perguntou
aos mandingas.
“ – Não, não!” – gritaram estes de dentro. “Solta-nos
e te juramos não voltar à tua casa.” Então Miséria
abriu a tabaqueira e deu licença pra que se fossem. Saiu a formiguinha
e cresceu até ser o Mau. Começaram a brotar do corpo de Lúcifer
todos os demônios e, de repente, num tropel, saiu a diabada por estas
ruas de Deus, levantando uma polvadeira como nuvem de tormenta.
- E agora vem o fim. Já estava Miséria nas últimas
pra esticar a canela, porque a todo cristão le chega o momento de
entregar a ossamenta, e ele a tinha usado bastante. E Miséria, pensando
fazer melhor, foi se atirar nas suas xergas pra esperar a morte.
La no seu quartinho de pobre se achou tão aborrecido e desanimado,
que nem mesmo se levantava pra comer, nem tomar água. Devagarinho
no mais se foi consumindo, até que ficou duro e como seco pelos
anos. E agora é que, tendo deixado o corpo pros bichos, Miséria
pensou que ainda tinha o que fazer e, sem perder tempo, porque não
era besta, o homem se tocou pro Céu e, depois de uma viagem comprida,
bateu na porta deste. No que se abriu a porta, São Pedro e Miséria
se reconheceram, mas pro velho sabido não lhe convinham essas lembranças
e, fazendo-se de chango-rengo, pediu licença pra passar.
- “ – Hum!” – disse São Pedro – “Quando estive na tua ferraria
com Nosso Senhor, pra conceder-te as três graças, te disse
que pedisses o Paraíso e tu respondeste: ´Cala-te velho idiota´.
E não é que guarde raiva, mas noa posso te deixar passar
agora, porque tendo te oferecido três vezes o Céu, tu te negaste
a aceitar.” E como aí, com esta, o porteiro do Paraíso trancou
a porta, Miséria pensando que dos males há que escolher o
menos pior, rumou pro Purgatório, pra ver como se arranjaria. Mas
ali le disseram que só podiam entrar almas destinadas ao Céu
e, como ele nunca podia chegar a essa glória, por ter desprezado
a oportunidade, não podiam ficar com ele as penas eternas tocavam
a ser cumpridas no Inferno. Então Miséria rumou pro Inferno
e bateu na porta, como antes batia na tabaqueira em cima da bigorna, fazendo
chorar os diabos. E le abriram; mas que raiva que não le deu, quando
se viu cara a cara com o mesmo Lili.
- “ – Maldita minha sorte” – gritou – “que donde vou hei de ter conhecidos!”
E Lili, lembrando-se das surras, saiu chispando, com a cola que nem bandeira
de Comissaria, e não parou senão nos pés mesmo de
Lúcifer, a quem disse quem estava de visita. Nunca os diabos levaram
tamanho susto, e o mesminho Rei dos Infernos, lembrando-se do peso do martelo,
se pôs a gritar como galinha choca, ordenando que trancassem bem
toditas as portas, não fosse entrar semelhante salafrário.
Aí então ficou Miséria sem entrada em nenhum lado,
porque nem no Céu, nem no Purgatório, nem no Inferno lo queriam
como sócio, e dizem que é por isso que, desde então,
Miséria e Pobreza são coisas deste mundo, e nunca se vão
ir a outra parte, pois em nenhuma querem agüentar sua existência.
Uma hora havia durado o relato e tinha-se acabado a água. Levantamo-nos
em silêncio para arrumar nossas prendas.
- Pobreza! – disse, estendendo minhas xergas, onde ia me acostar.
- Miséria! – disse, arrumando o pelego que me serviria de travesseiro.
E me larguei sobre este mundo, mas sem sofrer, porque num momentinho
estava como tronco derrubado a machadadas.