La Chanson de Roland

É a mais famosa das canções de gesta é a grande epopéia da literatura francesa. Traz no seu final, a declaração de que se trata de uma gesta de Turoldus, informação bastante vaga, e que não a exclui do anonimato. Data do século XIII, Compõe-se de cerca de 4.002 versos decassílabos e assonantados. Seu argumento se reporta ao evento histórico do conhecido ataque sofrido pela retaguarda do exército de Carlos Magno pelos bascos em Roncesvales, nos desfiladeiros dos Pirineus. A ficção, contudo, modifica em muito o acontecimento real. Assim, Rolando é feito sobrinho de Carlos Magno surgem figuras como Oliveiros, o arcebispo Turpin e outros pares de França; os bascos são substituídos pelos sarracenos; atribui-se a derrota a um traidor, Ganelon; e, por fim, inventa-se a vingança e desforra do imperador franco contra os infiéis. O poema ainda, no desfecho, mostra o sonho de Carlos Magno no qual lhe aparece o arcanjo Gabriel, ordenando-lhe preparativos para novas batalhas.

Em síntese, narra o seguinte:
— O rei Marsilo, fingindo amizade a Carlos Magno, envia-lhe régios presentes de paz. Para dirimir dúvidas, o Imperador cristão resolve ouvir a opinião de seus pares. Rolando não crê nas boas intenções de Marsilo, ao passo que Ganelon nelas acredita. Da divergência entre esses dois cavaleiros, resolve-se que seja enviado alguém à corte de Marsilo. A escolha recai sobre Ganelon, que, temendo as conseqüências da missão, jura vingar-se de Rolando. Na presença do rei inimigo convence-o de que somente poderá haver paz com a morte de Rolando. No regresso Ganelon já planeja o fim de Rolando, que fora incumbido de chefiar a retaguarda do exército cristão, Juntamente com Olivier (Oliveiros) Em Roncesvales são atacados por um exército infinitamente mai6 numeroso. Oliveiros pede a Rolando para que faça soar sua corneta a fim de que Carlos Magno corra em auxílio. Rolando, cioso de sua honra e confiado na sua espada invicta — a Durindana — nega, a princípio. Por mais que mate inimigos, esses surgem cada vez mais numerosos. Leva, por fim, aos lábios o olifante e faz dele sair os sons suplicantes para a ajuda salvadora. Ao longe, Carlos Magno julga ouvi-los, mas Ganelon convence-o de que se enganara. Rolando, com a boca em sangue, toca de novo o instrumento. Todo8, em volta, estão mortos. Deita-se na relva e coloca a espada ao lado. É o fim. Quando Carlos Magno chega, nada mais resta a fazer, senão esmagar o inimigo e punir o ignóbil traidor.

A repercussão da gesta carolíngia não se restringiu apenas ao âmbito nacional. Atingiu a outros países, tendo provocado a inspiração de muitos artistas. Foi nela que foram buscar motivos para suas composições, por exemplo, um Ariosto no seu "Orlando Furioso", e um Boiardo para seu "Orlando Enamorado". Também na música, temos a ópera "Orlando", com libreto em Quinault e melodia de Lulli. Enorme foi a influência dessa epopéia na literatura portuguesa. Rolando, com a sua durindana (tal como a excalibur do rei Artur), defensor dos fracos e dos humildes: Turpin, padre e guerreiro; Aude, irmã de Oliveiros e noiva de Rolando; Ganelon, símbolo da vingança e traição, — são figuras que surgem familiares na tradição portuguesa. Ressalte-se que a influência foi tão atuante a ponto de se fazer sentir nos cantos do povo, nos nomes próprios e em numerosíssimos romances populares. Dentre os livros que narram as aventuras de Rolando e os cavaleiros gauleses, esta a "História de Carlos Magno e dos Doze Pares de Franca", conhecido desde o princípio do século XVI, em edições castelhanas e, posteriormente, em traduções portuguesas.