Um padre, que andava de viagem, chegou a uma casa, à beira da estrada e junta a um rio, onde encontrou um menino acocado ao lado de uma panela que fervia.
- Que estás fazendo? – perguntou o padre.
- Estou comendo dos que vêm e esperando os que
hão de vir (queria dizer: comia os pequenos pedaços de carne
que subiam com a fervura e esperava os que vinham depois).
- Menino, cadê teu pai?
- Meu pai está no canto dos arrependidos (o pai,
no ano anterior, tinha feito um roçado e não chovera; neste
ano, que não fez roça, o inverno foi bom.)
- E tua mãe?
- Minha mãe está pagando os gastos do ano
passado! (estava de resguardo de parto).
- Menino, este rio é fundo?
- Não. O gato do meu pai passa com água
pelas costelas. (O gato do pai eram patos)
O padre disse depois ao garoto:
- Se tu quiseres morar comigo, te ensinarei a ler e muitas
coisas mais.
- O menino aceitou o convite e foi para a casa do padre.
Quando lá chegaram, o padre, armado de palmatória, foi ensinar
ao menino.
- Como é meu nome? – perguntou.
O menino respondeu:
- Não é padre?
- Padre não! – papa-hóstia! – disse o mestre,
e... plá!
- Como se chama aquilo?
- Não é mulher?
- Mulher, não – folgazona – plá!
- E aquilo?
- Gato?
- Gato, não – papa-ratos – plá!
- E aquilo?
- Água!
- Água, não – abundância – pá!
- E aquilo?
- Casa!
- Casa, não – traficância! – pá!
Foi aquele o primeiro dia de aula.
À noite, quando o padre foi dormir, o menino colocou
toda a mobília à porta do seu quarto, formando uma barreira.
Fez depois um facho de pano, ensopado de banha, amarrou
no rabo do gato, tocou fogo e gritou:
- Acode seu papa-hóstia, dos braços da folgazona, que lá vai o papa-ratos com o clarão do mundo no rabo, se não acudir com abundância, leva o diabo a traficância.
O padre ao abrir a porta a mobília caiu-lhe em
cima e quebrou-lhe o braço, além de outras feridas.
E o garoto, tinha desaparecido!