O homem que se interessa só ligeiramente e de raro em raro por sua afinidade com Deus, mal pode pensar ou sonhar que se acha de tal forma intimamente ligado a Deus, o que Deus se acha de tal forma perto dEle, que existe uma relação recíproca entre ambos: quanto mais forte é o homem, mais fraco é Deus; mais fraco é o homem, mais forte é Deus nele. Todo homem admite a existência de Deus, naturalmente pensa nele como o Mais Poderoso, como Ele o é eternamente, a criação é como nada; tal homem, porém, mal pensa na possibilidade de conexão mútua. Mas o Deus amoroso, que em amor incompreensível te criou a ti para seres algo para Ele, amorosamente exige algo de ti.
Aqui temos a conexão recíproca. Se o homem, egoisticamente, conservar aquilo que o amor fez por ele, e desejar egocentricamente ser algo, então, num sentido terreno, ele é forte mas Deus é fraco. E é como se o pobre Deus quase fosse logrado: como amor incompreensível, Deus foi adiante e fez o homem algo e logo depois o homem ludibria Deus e conserva aquilo como se fosse dele próprio. O homem terreno confirma-se na noção de que é forte, e é ativado talvez pelo julgamento profano de outras pessoas na mesma suposição, talvez por presumir que pode transformar a face do mundo mas Deus é fraco. Por outro lado, se o homem abandonar esse algo, a independência, a liberdade de agir por si mesmo, que o amor lhe outorgou; se essa perfeição de seu desejo consiste em existir para Deus ele não abusará, tomando-a em vão; se Deus aliás, o auxiliar nessa veneração por meio de sofrimentos amargos, ele é fraco mas Deus é forte. Ele, o homem débil, abandonou inteiramente este alguma coisa em que o amor o transformou, admitiu sem reservas que Deus tirou dele tudo o que era para ser tomado. DEUS somente espera o homem dar terna e humildemente seu jubiloso consentimento, e com isto entregar-se de maneira total, então ele é completamente fraco e Deus é mais forte. Para Deus só há um obstáculo: o egoísmo do homem, que está entre Ele e o homem como a sombra da terra quando produz eclipse da lua. Se existe este egoísmo, então o homem é potente, mas sua força é a fraqueza de Deus; se o egocentrismo é inexistente, então o homem é fraco, e Deus poderoso; quanto mais fraco se torna o homem, mais forte Deus se torna.
Contudo, se é assim, então em outro sentido, no verdadeiro
sentido a relação está invertida; e com isto chegamos
à felicidade.
Pois aquele que é forte sem Deus, é precisamente o que
é fraco. A força pela qual um homem permanece só pode
ser comparada à força de uma criança. Mas a força
pela qual um homem permanece só em Deus é fraqueza Deus
é forte em tal proporção que Ele é toda a força,
a própria força. De modo que estar sem Deus é estar
sem poder. E ser poderoso sem Deus é ser forte... sem força;
é com estar amando sem amar a Deus, e assim amar sem amor, pois
Deus é amor.
Mas quem se torna inteiramente fraco, Nele torna-se forte. E o
fato de que Deus é mais e mais forte no homem, isto significa que
também se torna mais e mais forte. Se pudesses tornar-te inteiramente
fraco em perfeita obediência, para que, amando a Deus compreendesses
que não és capaz de fazer mais nada, então todos os
poderosos da terra, se estivessem unidos contra ti, seriam incapazes de
ofender um cabelo de tua cabeça que poder prodigioso! Mas, de
fato, isto não é verdade e não digamos nada falso.
Realmente, eles seriam capazes de fazer isto, seriam mesmo capazes de matá-lo,
e a grande conjunção de todos os poderosos da terra não
é de modo algum requisitada para este fim; um poder muito, muito
inferior pode fazê-lo bem facilmente. Contudo, se fores inteiramente
fraco em obediência perfeita, então todos os poderosos da
terra em conjunto não terão poder para ofender um cabelo
de tua cabeça contrariamente à vontade de Deus. E quando
és ferido, quando és injuriado, quando és posto à
morte se foste inteiramente fraco em perfeita obediência entenderás
amorosamente que nenhum dano te vai ser causado, por mínimo que
seja, e que tudo é para teu verdadeiro bem-estar que prodigiosa
força!