Vendo-se um atum perseguido por um
golfinho, fugia com grande estrépito. A ponto de ser apanhado, deu
um salto tão forte que, sem se dar conta, parou na margem. Levado
pelo mesmo impulso, o golfinho parou no mesmo lugar. O atum de virou e
viu o golfinho exalando o último suspiro.
- Não me importa morrer –
disse – porque vejo morrer comigo o que causou minha morte.
Caiu uma mosca numa tigela cheia
de carne. Estando a ponto de se afogar no molho, exclamou para si mesma:
- Comi, bebi e me banhei; pode vir
a morte, não me importa agora.
De um pote derramou um delicioso
mel, e as moscas acudiram ansiosas a devorá-lo. E era tão
doce que não conseguiam parar. Porém, suas patas foram se
prendendo no mel e não puderam alçar vôo de novo. Já
a ponto de se afogar em seu tesouro, exclamaram:
- Morremos, desgraçadas que
somos, por querer tomar tudo num instante de prazer!
Diz uma lenda que a formiga atual
era em outros tempos um homem que, consagrado aos trabalhos de agricultura,
não se contentava com o produto de seu próprio esforço,
senão que olhava com inveja o produto alheio e roubava os frutos
de seus vizinhos.
Indignado Zeus pela avareza deste
homem, transformou-o em formiga.
Porém ainda que tenha mudado
de forma, não mudou seu caráter, pois até hoje percorre
os campos e recolhe o trigo e a cevada alheios e os guarda para seu uso.
Lançando-se do ar, uma águia
arrebatou um cordeirinho.
O corvo, vendo aquilo, tratou de
imitá-la, e se jogou sobre um carneiro mas, de forma tão
desengonçada que acabou por se enredar na lã e, debatendo-se
em vão com suas asas, não conseguiu se soltar. O pastor,
vendo aquilo, recolheu o corvo e, cortando as pontas de suas asas, o levou
a seus filhos.
Perguntaram seus filhos sobre que
ave era aquela, e eles lhes disse:
- Para mim, apenas um corvo, mas
ele acha que é uma águia.
Uma raposa era perseguida por uns
caçadores, quando viu um lenhador e suplicou que ele a escondesse.
O homem então lhe aconselhou que entrasse em sua cabana.
De imediato chegaram os caçadores,
e perguntaram ao lenhador se havia visto a raposa.
Coma voz ele disse que não,
mas com sua mão disfarçadamente mostrava onde havia se escondido.
Os caçadores não compreenderam
os sinais da mão e se confiaram no que disse com as palavras.
A raposa, ao vê-los irem,
saiu sem dizer nada.
O lenhador a reprovou porque, apesar
de tê-la salvo, não agradecera, ao que a raposa respondeu:
--Agradeceria se tuas mãos
e tua boca tivessem dito o mesmo.
Um homem que tinha em sua casa dois
galos, comprou uma perdiz doméstica, e a levou para junto dos galos,
para alimentá-la. Esses a atacavam e perseguiam, e a perdiz, pensando
que a maltratavam por ser de espécie diferente, se sentia humilhada.
Porém, dias mais tarde viu que os galos lutavam entre si e que cada
vez que se separavam, estavam cobertos de sangue. Então disse a
si mesma:
- Já não me queixo
que os galos me persigam, pois vejo que nem entre eles há paz.
Agoniado pela sede, chegou um cervo
a um manancial. Depois de beber,
viu seu reflexo na água.
Ao contemplar seus belos chifres, sentiu-se orgulhoso, porém ficou
descontente por suas pernas serem fracas e finas. Enquanto assim pensava,
apareceu um leão que começou a persegui-lo. Começou
a correr e tomou grande distância, porque a força dos cervos
está em suas pernas, e a do leão em seu coração.
Enquanto corria, o cervo guardou a distância que o salvava; mas,
ao entrar num bosque, seus chifres se engancharam nos ramos e, não
podendo escapar, foi alcançado pelo leão.
A ponto de morrer, exclamou para
si mesmo:
- Infeliz! Meus pés, que
pensava me trairiam, foram os que me salvaram e meus chifres, nos quais
colocava toda minha confiança, são os que me perdem.
Um cervo era perseguido por uns caçadores
e se refugiu embaixo de uma videira. Passaram os caçadores e a cerva,
achando-se muito bem escondida, começou a saborear as uvas da vinha
que a cobria. Vendo os caçadores que os ramos se moviam, pensaram
muito acertadamente, que ali dentro havia um animal oculto e, disparando
suas flechas, feriram a cerva mortalmente. Esta, vendo-se morrer, pronunciou
estas
palavras:
-- Bem que mereci, pois não
devia ter maltratado quem me estava salvando!
Uma cerva que fugia de uns caçadores,
chegou a uma gruta onde não sabia que morava o leão. Entrando
nela para se esconder, caiu nas garras do leão. Vendo-se sem remédio,
perdida, exclamou:
- Infeliz de mim! Fugindo dos homens,
caí nas garras de um feroz animal.
Uma cerva a qual faltava um olho,
passeava à beira-mar, voltando seu olho intacto em direção
à terra para observar a possível chegada de caçadores,
e dando ao mar o lado que faltava o olho, pois dali não esperava
nenhum perigo. Mas resultou que uma gente navegava por este lugar, e ao
ver a cerva, abateram-na com seus dardos. E a cerva agonizando, disse para
si:
- Pobre de mim! Vigiava a terra,
que acreditava cheia de perigos, e o mar, que considerava um refúgio,
me foi muito mais funesto.
Disse um dia o cervinho ao cervo:
- Pai: és maior e mais veloz
que os cães, e tens ainda uns chifres magníficos para te
defender; por que foges deles?
O cervo respondeu, rindo:
- É certo o que me dizes,
filho; mas não sei o que acontece, mas quando ouço o latido
de um cão, imediatamente quero fugir.
Um cavalo velho foi vendido para
dar voltas à pedra de um moinho. Ao se ver atado à pedra,
exclamou soluçando:
- Depois de dar voltas nas corridas,
vê aqui a que voltas estou reduzido!
Quando Zeus criou o homem, só
lhe concedeu uns poucos anos de vida. Porém o homem, pondo a funcionar
sua inteligência, ao chegar o inverno, construiu uma casa e morou
nela. Certo dia em que o frio era muito intenso, e a chuva começou
a cair, não podendo o cavalo agüentar-se mais, chegou correndo
onde estava o homem e lhe pediu abrigo.
Disse-lhe o homem que só
o faria com uma condição: que lhe cedesse uma parte dos anos
que lhe corresponderiam. O cavalo aceitou. Pouco depois se apresentou o
boi que tampouco podia sofrer no mau tempo. O homem disse o mesmo: que
o admitia se desse certo número de anos. O boi cedeu uma parte e
foi admitido. Por fim chegou o cão, também morrendo de frio
e, cedendo uma parte de seu tempo de vida, obteve seu refúgio. E
este é o resultado: quando os homens cumprem o tempo que Zeus lhes
deu, são puros e bons; quando chegam aos anos pedidos ao cavalo
são intrépidos e orgulhosos; quando estão nos do boi,
se dedicam a mandar; e quando chegam a usar o tempo do cão, ao final
de sua existência, tornam-se irascíveis e mal-humorados.
Havia um palafrenero que roubava
e levava a vender a cevada de seu
cavalo; porém, em troca,
passava o dia inteiro limpando-o e escovando-o para que brilhasse. Um dia
cavalo lhe disse:
-Se realmente queres que eu fique
formoso, não roubes a cevada que é para meu alimento.
Um homem tinha um cavalo e um asno.
Um dia que ambos iam à cidade, o asno, sentindo-se cansado, disse
ao cavalo:
-- Toma uma parte de minha carga
se te interessa minha vida.
O cavalo, fazendo-se de surdo, não
disse nada e o asno caiu vítima de fadiga e morreu ali mesmo. Então
o dono passou toda a carga para cima do cavalo, inclusive a pele do asno,
e o cavalo, suspirando. disse:
--Que má sorte tenho!
Por não ter querido carregar um fardo leve, agora tenho que
carregar tudo, até a pele do asno!
Havia uma figueira à margem de um caminho. Uma raposa viu junto a ela uma serpente adormecida. Vendo aquele corpo tão largo, e pensando en igualá-lo, se deitou a raposa no chão, ao lado da serpente, e tentou estirar-se o quanto pôde, até que por fim, de tanto esforço, rebentou-se.
Um soldado, durante uma guerra, alimentou
com cevada a seu cavalo, seu companheiro de esforços e perigos.
Mas, acabada a guerra, o cavalo foi empregado em trabalhos servis e para
transportar pesadas cargas, sendo alimentado unicamente com palha. Ao se
anunciar uma nova guerra, e ao som da trombeta, o dono do cavalo o aparelhou,
armou-se e montou em cima. Mas o cavalo exausto, caía a cada momento.
Por fim disse a seu amo:
-Vai-te, pois que de cavalo
que era me converteste num asno. Como queres fazer agora de um asno um
cavalo?
Votavam os animais para eleger um rei. O camelo e o elefante se puseram a disputar os votos, já que esperavam ser preferidos por causa de seu tamanho e sua força. Porém chegou o macaco e os declarou incapazes de reinar. O camelo não serve- disse – porque não se encoleriza contra os bandidos e o elefante tampouco nos serve porque teremos de temer o ataque do marrano, animal a quem teme o elefante.
Quando os humanos viram o camelo pela primeira vez, se assustaram e, atemorizados pelo seu grande tamanho, fugiram. Porém, passado o tempo e vendo que era inofensivo, ficaram valentes e se aproximaram dele. Logo vendo que o animal não conhecia a cólera, chegaram a domesticá-lo a ponto de colocar-lhe cabresto, deixando que as crianças o conduzissem.
Obrigado por seu dono a bailar, um
camelo comentou:
-- Que coisa ! No só careço
de graça andando, mas que dançando sou pior ainda.
Sentia o camelo inveja dos cornos do touro, e quis obter uns para si. Para isso foi ver Zeus, pedindo-lhe que lhe desse chifres semelhantes. Mas Zeus, indignado de que não se contentara com seu grande tamanho e força, não só lhe negou dar os chifres, mas também lhe cortou uma parte das orelhas.
Chamava um cabreiro a suas cabras
para levá-las ao estábulo.
Uma delas, ao passar por um rico
pasto se deteve, e o cabreiro lhe jogou uma pedra, porém com
tão má sorte que lhe quebrou um chifre. Então
o cabreiro lhe suplicou que não contasse ao patrão,
ao que a cabra respondeu:
- Quisera eu ficar calada, mas nao
poderia! Bem claro está à vista meu chifre quebrado.
Uma cabra e um asno comiam ao mesmo
tempo no estábulo. A cabra começou a invejar o asno porque
acreditava que ele estava melhor alimentado, e lhe disse:
- Tua vida é um tormento
inacabável. Finge um ataque e deixa-te cair num fosso para que te
dêem umas férias.
Aceitou o asno o conselho,
e deixando-se cair, machucou todo o corpo.
Vendo-o o amo, chamou o veterinário
e lhe pediu um remédio para o pobre. Prescreveu o curandeiro que
necessitava uma infusão com o pulmão de uma cabra,
pois era muito eficiente para devolver o vigor. Para isso então
degolaram a cabra e assim curasse o asno.
Levou um cabreiro a pastar a suas
cabras e de pronto viu que as acompanhavam unas cabras montanhesas. Legada
a noite, levou todas a sua gruta.
Na manhã seguinte caiu uma
forte tormente e não podendo levá-las, cuidou lá mesmo.
Porém, enquanto dava a suas próprias cabras um punhado de
forragem, às montanhesas servia muito mais, com o propósito
de ficar com elas. Terminou por fim o mau tempo, e sairam todas ao campo,
porém as cabras montanhesas escaparam para a montanha. Acusou-as
o pastor de ingratas, por abandoná-lo depois de tê-las atendido
tão bem, mas elas lhe responderam:
- Maior razão para desconfiar
de ti, porque se a nós recém chegadas nos tratou melhor que
a tuas velhas e leais escravas, significa isto que se logo vierem outras
cabras, tu nos depreciaria por elas.
Estava uma raposa com muita fome e ao ver pendendo um cacho de deliciosas uvas de uma parreira, quis apanhá-los com sua boca. Mas, não podendo alcançá-los, fez um muxoxo e disse:- Que importa... Estão verdes mesmo!
Vendo a um boi trabalhando, uma bezerra
que só descansava e comia se condoeu de sua sorte, alegrando-se
com a dela. Porém, chegou o dia de uma solenidade religiosa e, enquanto
o boi ficava a um lado, apanharam a bezerra para sacrificá-la. Vendo
o sucedido, o boi sorrindo, disse: - Veja, bezerra, já sabes porque
tu não tinhas que trabalha:
- É que estavas reservada
para o sacrifício !
No corno de um boi posou um mosquito.
Depois de permanecer ali um pouco, ao se ir perguntou ao boi se ele se
alegrava com sua partida. O boi respondeu:
- Nem sabia que estavas aí.
Tampouco notarei quando te fores.
Arrastava a corrente de um rio a
uma víbora enroscada em uma marrana de espinhos.
Observava a passagem uma raposa
que descansava e exclamou:
- Para tal classe de barco, tal
piloto !
A uma loja de um ferreiro entrou
uma víbora, pedindo caridade às ferramentas. Depois de receber
algo de todas, faltando só a lima, aproximou-se e lhe suplicou que
lhe desse alguma coisa.
- Bem enganada estás - disse
a lima - se crês que te darei algo. Eu que tenho o costume, não
de dar, mas sim de tomar algo de todos!
Uma víbora acostumada a beber
água de um manancial, e uma cobra d’água que nele habitava
tratava de impedi-la, indignada porque a víbora, no contente em
reinar no campo, também chegasse a molestar seu domínio.
A tanto chegou a coisa que combinaram
um combate: aquela que conseguisse a vitória, entraria em posse
de tudo. Fixaram o dia, e as rãs, que não queriam a cobra,
foram apoiar a víbora, excitando-a e prometendo que a ajudariam.
Começou o combate, e as rãs,
não podendo fazer outra coisa, só gritavam. Ganhou a víbora
que as reprovou porque, ao invés de ajudá-la, não
haviam feito outra coisa senão gritar. Responderam as rãs:
- Mas, companheira, nossa ajuda
não está em nossos braços, e sim em nas vozes.
Um homem muito rico alimentava um
ganso e um cisne juntos, ainda que com diferentes finalidades: um era para
o canto e outro para a mesa. Quando chegou a hora para a qual era
alimentado o ganso, era de noite e a escuridão não permitia
distinguir entre as duas aves. Capturado o cisne em lugar do ganso, entoou
seu belo canto prelúdio
de morte. Al ouvir sua voz, o amo
o reconheceu e seu canto o salvou da morte.
Se diz que os cisnes cantam apenas
antes de morrer. Um homem viu à venda um cisne e, havendo ouvido
que era um animal muito melodioso, comprou-o. Um dia que o homem dava uma
festa, vestiu o cisne e implorou que cantasse. Mas o cisne se manteve em
silêncio. Porém um dia, pensando o cisne que estava para morrer,
forçosamente chorou sua melodia. Ao ouvir, o dono disse:
- Se só cantas quando vais
morrer, fui um tolo pedindo que cantasse ao invés de imolar-te.
Discutiam a raposa e o crocodilo
sobre a nobreza de seus ancestrais. Por longo tempo o falou o crocodilo
sobre o sobrenome de sua gente, concluindo por dizer que seus pais haviam
chegado a ser os guardiães do ginásio.
- Não é necessário
que me digas – replicou a raposa - tua pele demonstra muito bem há
quantos anos te dedica aos exercícios de ginástica.
Um rato do campo tinha por amigo
um outro da cidade, e o convidou para que fosse comer na campanha. Mas
como só podia oferecer-lhe trigo e ervas, o rato da cidade lhe disse:
- Sabes amigo, que levas uma vida
de formiga? Por minha vez, possuo bens em abundância. Vem comigo
e a tua disposição os terás.
Partiram ambos para a cidade. Mostrou
o rato da cidade a seu amigo trigo e legumes, figos e queijo, frutas e
mel. Maravilhado, o rato do campo bendizia seu amigo de todo o coração
e renegava sua má sorte. Enquanto assim se divertiam, um homem de
repente abriu a porta. Espantados pelo ruído os dois ratos de lançaram
temerosos a um buraco. Voltaram logo a buscar figos secos, porém
outra pessoa entrou no lugar e, ao vê-la, os dois se precipitaram
novamente atrás de um toco para se esconder. Então o rato
do campo, esquecendo de sua fome, suspirou e disse ao rato da cidade:
- Adeus, amigo, vejo que comes até
te fartar e que estás muito satisfeito; porém, é a
preço de mil perigos e constantes temores. Eu, por minha vez, sou
um pobretão e vivo mordiscando a cevada e o trigo, mas sem ter que
fugir nem ter temores sobre nada.
Um rato da terra se fez amigo de uma rã, para sua desgraça. A rã, obedecendo a intenções desviadas atou a pata do rato a sua própria pata. Marcharam então primeiro pela terra para comer trigo, logo se aproximaram da beira do pântano e a rã, dando um saldo, arrastou para o fundo o rato, enquanto ficava na água lançando seus conhecidos gritos. O azarado rato, guinchando na água, se afogou, ficando a flutuar atado à pata da rã. O viu um martim-pescador que voava por ali e agarrou o ratão com suas garras, arrastando junto a rã, que também serviu de alimento ao pássaro.
Reuniram-se um dia as lebres e se
lamentavam entre si de levar uma vida tão precária e temerosa
pois, com efeito, não eram elas vítimas dos homens, dos cães,
das águias e outros animais?? Mais valia morrer de vez que viver
no terror! Tomada esta resolução, se lançaram todas
ao mesmo tempo a um lago para morrer afogadas.
Porém as rãs, que
estavam sentadas ao redor do lago, quando ouviram o ruído das lebres
se aproximando, saltaram assustadas na água. Então uma das
lebres, a que parecia mais inteligente que as demais, disse:
- Alto companheiras. Não
há porque nos apressarmos, pois vejam que há outros mais
medrosos que nós!