FÁBULAS DE ESOPO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tradução e seleção: Jô Andrada ([email protected])
Ajude a Sociedade Protetora dos Animais de sua cidade
 
 
 
O atum e o golfinho

Vendo-se um atum perseguido por um golfinho, fugia com grande estrépito. A ponto de ser apanhado, deu um salto tão forte que, sem se dar conta, parou na margem. Levado pelo mesmo impulso, o golfinho parou no mesmo lugar. O atum de virou e viu o golfinho exalando o último suspiro.
- Não me importa morrer – disse – porque vejo morrer comigo o que causou minha morte.

Sofremos com menos dor as desgraças que nos fazem padecer, quando
as vemos compartilhadas com aqueles que as causam.
 
A mosca

Caiu uma mosca numa tigela cheia de carne. Estando a ponto de se afogar no molho, exclamou para si mesma:
- Comi, bebi e me banhei; pode vir a morte, não  me importa agora.

Quando a morte se apresenta acompanhada de felicidade, se aceita sem queixas.
 
As moscas

De um pote derramou um delicioso mel, e as moscas acudiram ansiosas a devorá-lo. E era tão doce que não conseguiam parar. Porém, suas patas foram se prendendo no mel e não puderam alçar vôo de novo. Já a ponto de se afogar em seu tesouro, exclamaram:
- Morremos, desgraçadas que somos, por querer tomar tudo num instante de prazer!

Toma sempre as coisas mais belas de tua vida com serenidade, pouco a pouco, para que as desfrutes plenamente. Não te vás afogar dentro delas.
 
A formiga

Diz uma lenda que a formiga atual era em outros tempos um homem que, consagrado aos trabalhos de agricultura, não se contentava com  o produto de seu próprio esforço, senão que olhava com inveja o produto alheio e roubava os frutos de seus vizinhos.
Indignado Zeus pela avareza deste homem, transformou-o em formiga.
Porém ainda que tenha mudado de forma, não mudou seu caráter, pois até hoje percorre os campos e recolhe o trigo e a cevada alheios e os guarda para seu uso.

Ainda que  aos malvados se lhes castigue severamente, dificilmente mudarão sua natureza.
 
A águia, o corvo e o pastor

Lançando-se do ar, uma águia arrebatou um cordeirinho.
O corvo, vendo aquilo, tratou de imitá-la, e se jogou sobre um carneiro mas, de forma tão desengonçada que acabou por se enredar na lã e, debatendo-se em vão com suas asas, não conseguiu se soltar. O pastor, vendo aquilo, recolheu o corvo e, cortando as pontas de suas asas, o levou a seus filhos.
Perguntaram seus filhos sobre que ave era aquela, e eles lhes disse:
- Para mim, apenas um corvo, mas ele acha que é uma águia.

Põe teu esforço e dedicação no que realmente estás preparado, não  no que não te corresponde.
 
 
A raposa e o lenhador

Uma raposa era perseguida por uns caçadores, quando viu um lenhador e suplicou que ele a escondesse. O homem então lhe aconselhou que entrasse em sua  cabana.
De imediato chegaram os caçadores, e perguntaram ao lenhador se havia visto a raposa.
Coma voz ele disse que não, mas com sua mão disfarçadamente mostrava onde havia se escondido.
Os caçadores não compreenderam os sinais da mão e se confiaram no que disse com as palavras.
A raposa, ao vê-los irem, saiu sem dizer nada.
O lenhador a reprovou porque, apesar de tê-la salvo, não agradecera, ao que a raposa respondeu:
--Agradeceria se tuas mãos e tua boca tivessem dito o mesmo.

Não negues com teus atos, o que pregas com tuas palavras.
 
Os galos e a perdiz

Um homem que tinha em sua casa dois galos, comprou uma perdiz doméstica, e a levou para junto dos galos, para alimentá-la. Esses a atacavam e perseguiam, e a perdiz, pensando que a maltratavam por ser de espécie diferente, se sentia humilhada. Porém, dias mais tarde viu que os galos lutavam entre si e que cada vez que se separavam, estavam cobertos de sangue. Então disse a si mesma:
- Já não me queixo que os galos me persigam, pois vejo que nem entre eles há paz.

Se chegas a uma comunidade onde os vizinhos não vivem em praz, fica certo que tampouco te deixarão viver em paz.
 
 
O cervo, o manancial e o leão

Agoniado pela sede, chegou um cervo a um manancial. Depois de beber,
viu seu reflexo na água. Ao contemplar seus belos chifres, sentiu-se orgulhoso, porém ficou descontente por suas pernas serem fracas e finas. Enquanto assim pensava, apareceu um leão que começou a persegui-lo. Começou a correr e tomou grande distância, porque a força dos cervos está em suas pernas, e a do leão em seu coração. Enquanto corria, o cervo guardou a distância que o salvava; mas, ao entrar num bosque, seus chifres se engancharam nos ramos e, não podendo escapar, foi alcançado pelo leão.
A ponto de morrer, exclamou para si mesmo:
- Infeliz! Meus pés, que pensava me trairiam, foram os que me salvaram e meus chifres, nos quais colocava toda minha confiança, são os que me perdem.

Muitas vezes, a quem cremos mais indiferentes, são aqueles que nos dão a mão, enquanto os que nos adulam, quando precisamos, desaparecem.
 
O cervo e o vinhedo

Um cervo era perseguido por uns caçadores e se refugiu embaixo de uma videira. Passaram os caçadores e a cerva, achando-se muito bem escondida, começou a saborear as uvas da vinha que a cobria. Vendo os caçadores que os ramos se moviam, pensaram muito acertadamente, que  ali dentro havia um animal oculto e, disparando suas flechas, feriram a cerva mortalmente. Esta, vendo-se morrer, pronunciou estas
palavras:
-- Bem que mereci, pois não devia ter maltratado  quem me estava salvando!

Sê sempre agradecido com quem generosamente te dá ajuda para ir adiante.
 
A cerva na gruta do leão

Uma cerva que fugia de uns caçadores, chegou a uma gruta onde não sabia que morava o leão. Entrando nela para se esconder, caiu nas garras do leão. Vendo-se sem remédio, perdida, exclamou:
- Infeliz de mim! Fugindo dos homens, caí nas garras de um feroz animal.

Se tratas de sair de um problema, busca uma saída que não seja cair em outro.
 
A cerva torta

Uma cerva a qual faltava um olho, passeava à beira-mar, voltando seu olho intacto em direção à terra para observar a possível chegada de caçadores, e dando ao mar o lado que faltava o olho, pois dali não esperava nenhum perigo. Mas resultou que uma gente navegava por este lugar, e ao ver a cerva, abateram-na com seus dardos. E a cerva agonizando, disse para si:
- Pobre de mim! Vigiava a terra, que acreditava cheia de perigos, e o mar, que considerava um refúgio, me foi muito mais funesto.

Nunca excedas a valoração das coisas. Procura ver sempre suas vantagens e desvantagens de forma balanceada.
 
 
O cervo e o cervinho

Disse um dia o cervinho ao cervo:
- Pai: és maior e mais veloz que os cães, e tens ainda uns chifres magníficos para te defender; por que foges deles?
O cervo respondeu, rindo:
- É certo o que me dizes, filho; mas não sei o que acontece, mas quando ouço o latido de um cão, imediatamente quero fugir.

Quando se tem um ânimo temeroso, não há razão que possa mudá-lo.
 
O cavalo velho

Um cavalo velho foi vendido para dar voltas à pedra de um moinho. Ao se ver atado à pedra, exclamou soluçando:
- Depois de dar voltas nas corridas, vê aqui a que voltas estou reduzido!

Não presuma da força da juventude. Para muitos, a velhice é um trabalho muito penoso.
 
O cavalo, o boi, o cão e o homem

Quando Zeus criou o homem, só lhe concedeu uns poucos anos de vida. Porém o homem, pondo a funcionar sua inteligência, ao chegar o inverno, construiu uma casa e morou nela. Certo dia em que o frio era muito intenso, e a chuva começou a cair, não podendo o cavalo agüentar-se mais, chegou correndo onde estava o homem e lhe pediu abrigo.
Disse-lhe o homem que só o faria com uma condição: que lhe cedesse uma parte dos anos que lhe corresponderiam. O cavalo aceitou. Pouco depois se apresentou o boi que tampouco podia sofrer no mau tempo. O homem disse o mesmo: que o admitia se desse certo número de anos. O boi cedeu uma parte e foi admitido. Por fim chegou o cão, também morrendo de frio e, cedendo uma parte de seu tempo de vida, obteve seu refúgio. E este é o resultado: quando os homens cumprem o tempo que Zeus lhes deu, são puros e bons; quando chegam aos anos pedidos ao cavalo são intrépidos e orgulhosos; quando estão nos do boi, se dedicam a mandar; e quando chegam a usar o tempo do cão, ao final de sua existência, tornam-se irascíveis e mal-humorados.

Descreve esta fábula as etapas do homem: infância inocente, juventude vigorosa, maturidade poderosa e velhice sensível.
 
O cavalo e o palafreneiro

Havia um palafrenero que roubava e levava a vender a cevada de seu
cavalo; porém, em troca, passava o dia inteiro limpando-o e escovando-o para que brilhasse. Um dia  cavalo lhe disse:
-Se realmente queres que eu fique formoso, não roubes a cevada que é para meu alimento.

Tem cuidado com quem muito te adula, pois quer algo em troca.
 
O cavalo e  o asno

Um homem tinha um cavalo e um asno. Um dia que ambos iam à cidade, o asno, sentindo-se cansado, disse ao cavalo:
-- Toma uma parte de minha carga se te interessa minha vida.
O cavalo, fazendo-se de surdo, não disse nada e o asno caiu vítima de fadiga e morreu ali mesmo. Então o dono passou toda a carga para cima do cavalo, inclusive a pele do asno, e o cavalo, suspirando. disse:
--Que má sorte tenho!  Por não ter  querido carregar um fardo leve, agora tenho que carregar tudo, até a pele do asno!

Cada vez que estendes tua mão para ajudar ao  próximo, sem que notes estás, na realidade, ajudando a ti mesmo.
 
A raposa e a serpente

Havia uma figueira à margem de um caminho. Uma raposa viu junto a ela uma serpente adormecida. Vendo aquele corpo tão largo, e pensando en igualá-lo, se deitou a raposa no chão, ao lado da serpente, e tentou estirar-se o quanto pôde, até que por fim, de tanto esforço, rebentou-se.

Não imites os maiores se não tens condições de fazê-lo.
 
O cavalo e o soldado

Um soldado, durante uma guerra, alimentou com cevada a seu cavalo, seu companheiro de esforços e perigos. Mas, acabada a guerra, o cavalo foi empregado em trabalhos servis e para transportar pesadas cargas, sendo alimentado unicamente com palha. Ao se anunciar uma nova guerra, e ao som da trombeta, o dono do cavalo o aparelhou, armou-se e montou em cima. Mas o cavalo exausto, caía a cada momento. Por fim disse a seu amo:
-Vai-te, pois  que de cavalo que era me converteste num asno. Como queres fazer agora de um asno um cavalo?

Nos tempos de bem-estar, devemos nos preparar para as épocas críticas.
 
 
O camelo, o elefante e o macaco

Votavam os animais para eleger um rei. O camelo e o elefante se puseram a disputar os votos, já que esperavam ser preferidos por causa de seu tamanho e sua força. Porém chegou o macaco e os declarou incapazes de reinar. O camelo não serve- disse – porque não se encoleriza contra os bandidos e o elefante tampouco nos serve porque teremos de temer o ataque do marrano, animal a quem teme o elefante.

A maior fortaleza sempre se mede no ponto mais fraco.
 
O camelo visto pela primeira vez

Quando os humanos viram o camelo pela primeira vez, se assustaram e, atemorizados pelo seu grande tamanho, fugiram. Porém, passado o tempo e vendo que era inofensivo, ficaram valentes e se aproximaram dele. Logo vendo que o animal não conhecia a cólera, chegaram a domesticá-lo a ponto de colocar-lhe cabresto, deixando que as crianças o conduzissem.

É natural que ao desconhecido  tratemos sempre com receio e prudência. Depois de várias observações poderemos ter um juízo melhor.
 
O camelo bailarino

Obrigado por seu dono a bailar, um camelo comentou:
-- Que coisa ! No só careço de graça andando, mas que dançando sou pior ainda.

Usa sempre cada coisa para o propósito com que foi criada.
 
O camelo e Zeus

Sentia o camelo inveja dos cornos do touro, e quis obter uns para si. Para isso foi ver Zeus, pedindo-lhe que lhe desse chifres semelhantes. Mas Zeus, indignado de que não  se contentara com seu grande tamanho e força, não só lhe negou dar os chifres, mas também lhe cortou uma parte das orelhas.

A inveja não é boa conselheira. Quando quiseres melhorar em algo, faz com teu esforço e por teu desejo de progredir, e não porque teu vizinho o tenha
 
A cabra e o cabreiro

Chamava um cabreiro a suas cabras para levá-las ao estábulo.
Uma delas, ao passar por um rico pasto se deteve, e o cabreiro lhe  jogou uma pedra, porém com tão má sorte que lhe quebrou um chifre.  Então o cabreiro lhe suplicou que não  contasse ao patrão, ao que a cabra respondeu:
- Quisera eu ficar calada, mas nao poderia! Bem claro está à  vista meu chifre quebrado.

Nunca negues o que bem se vê.
 
 
A cabra e o asno

Uma cabra e um asno comiam ao mesmo tempo no estábulo. A cabra começou a invejar o asno porque acreditava que ele estava melhor alimentado, e lhe disse:
- Tua vida é um tormento inacabável. Finge um ataque e deixa-te cair num fosso para que te dêem umas férias.
Aceitou o  asno o conselho, e deixando-se cair, machucou todo o corpo.
Vendo-o o amo, chamou o veterinário e lhe pediu um remédio para o pobre. Prescreveu o curandeiro que necessitava uma infusão com o  pulmão de uma cabra, pois era muito eficiente para devolver o vigor. Para isso então  degolaram a cabra e assim curasse o asno.

Em todo plano de maldade, a vítima principal sempre é seu próprio criador.
 
As cabras montanhesas e o cabreiro

Levou um cabreiro a pastar a suas cabras e de pronto viu que as acompanhavam unas cabras montanhesas. Legada a noite, levou todas a sua gruta.
Na manhã seguinte caiu uma forte tormente e não podendo levá-las, cuidou lá mesmo. Porém, enquanto dava a suas próprias cabras um punhado de forragem, às montanhesas servia muito mais, com o propósito de ficar com elas. Terminou por fim o mau tempo, e sairam todas ao campo, porém as cabras montanhesas escaparam para a montanha. Acusou-as o pastor de ingratas, por abandoná-lo depois de tê-las atendido tão bem, mas elas lhe responderam:
- Maior razão para desconfiar de ti, porque se a nós recém chegadas nos tratou melhor que a tuas velhas e leais escravas, significa isto que se logo vierem outras cabras, tu nos depreciaria por elas.

Nunca confíes em quem pretende tua nova amizade a ponto de abandonar a que já tinha.
 
A raposa e as uvas

Estava uma raposa com muita fome e ao ver pendendo um cacho de deliciosas uvas de uma parreira, quis apanhá-los com sua boca. Mas, não podendo alcançá-los, fez um muxoxo e disse:- Que importa... Estão verdes mesmo!

Nunca culpes os demais pelo que não és capaz de alcançar.
 
O boi e o bezerro

Vendo a um boi trabalhando, uma bezerra que só descansava e comia se condoeu de sua sorte, alegrando-se com a dela. Porém, chegou o dia de uma solenidade religiosa e, enquanto o boi ficava a um lado, apanharam a bezerra para sacrificá-la. Vendo o sucedido, o boi sorrindo, disse: - Veja, bezerra, já sabes porque tu não tinhas que trabalha:
- É que estavas reservada para o sacrifício !

Não te ufanes da ociosidade, pois nunca sabes que mal traz oculto.
 
 
O boi e o mosquito

No corno de um boi posou um mosquito. Depois de permanecer ali um pouco, ao se ir perguntou ao boi se ele se alegrava com sua partida. O boi respondeu:
- Nem sabia que estavas aí. Tampouco notarei quando te fores.

Passar pela vida, sem dar nada, é ser insignificante.
 
A víbora e a raposa

Arrastava a corrente de um rio a uma víbora enroscada em uma marrana de espinhos.
Observava a passagem uma raposa que descansava e exclamou:
- Para tal classe de barco, tal piloto !

Homens perversos sempre se ligam a ferramentas perversas.
 
 
A víbora e a lima

A uma loja de um ferreiro entrou uma víbora, pedindo caridade às ferramentas. Depois de receber algo de todas, faltando só a lima, aproximou-se e lhe suplicou que lhe desse alguma coisa.
- Bem enganada estás - disse a lima - se crês que te darei algo. Eu que tenho o costume, não de dar, mas sim de tomar algo de todos!

Nunca deves esperar obter algo de quem só tem vivido de tirar dos demais.
 
 
A víbora e a cobra d’água

Uma víbora acostumada a beber água de um manancial, e uma cobra d’água que nele habitava tratava de impedi-la, indignada porque a víbora, no contente em reinar no campo, também chegasse a molestar  seu domínio.
A tanto chegou a coisa que combinaram um combate: aquela que conseguisse a vitória, entraria em posse de tudo. Fixaram o dia, e as rãs, que não queriam a cobra, foram apoiar a víbora, excitando-a e prometendo que a ajudariam.
Começou o combate, e as rãs, não podendo fazer outra coisa, só gritavam. Ganhou a víbora que as reprovou porque, ao invés de ajudá-la, não haviam feito outra coisa senão gritar. Responderam as rãs:
- Mas, companheira, nossa ajuda não está em nossos braços, e sim em nas vozes.

Na luta diária tão importante é o estímulo como a ação.
 
O cisne confundido com o ganso

Um homem muito rico alimentava um ganso e um cisne juntos, ainda que com diferentes finalidades: um era para o canto e outro para a mesa.  Quando chegou a hora para a qual era alimentado o ganso, era de noite e a escuridão não permitia distinguir entre as duas aves. Capturado o cisne em lugar do ganso, entoou seu belo canto prelúdio
de morte. Al ouvir sua voz, o amo o reconheceu e seu canto o salvou da morte.

Antes de tomar uma ação sobre outro, seja para beneficiar ou prejudicar, primeiro devemos nos assegurar de sua verdadeira identidade.
 
O Cisne e seu dono

Se diz que os cisnes cantam apenas antes de morrer. Um homem viu à venda um cisne e, havendo ouvido que era um animal muito melodioso, comprou-o. Um dia que o homem dava uma festa, vestiu o cisne e implorou que cantasse. Mas o cisne se manteve em silêncio. Porém um dia, pensando o cisne que estava para morrer, forçosamente chorou sua melodia. Ao ouvir, o dono disse:
- Se só cantas quando vais morrer, fui um tolo pedindo que cantasse ao invés de imolar-te.

Muitas vezes sucede que teremos de fazer à força o que não quisemos fazer de vontade.
 
A raposa e o crocodilo

Discutiam a raposa e o crocodilo sobre a nobreza de seus ancestrais. Por longo tempo o falou o crocodilo sobre o sobrenome de sua gente, concluindo por dizer que seus pais haviam chegado a ser os guardiães do ginásio.
- Não  é necessário que me digas – replicou a raposa - tua pele demonstra muito bem há quantos anos te dedica aos exercícios de ginástica.

Recorda sempre que o que bem se vê, não se pode ocultar com uma mentira.
 
O rato do campo e o rato da cidade

Um rato do campo tinha por amigo um outro da cidade, e o convidou para que fosse comer na campanha. Mas como só podia oferecer-lhe trigo e ervas, o rato da cidade lhe disse:
- Sabes amigo, que levas uma vida de formiga? Por minha vez, possuo bens em abundância. Vem comigo e a tua disposição os terás.
Partiram ambos para a cidade. Mostrou o rato da cidade a seu amigo trigo e legumes, figos e queijo, frutas e mel. Maravilhado, o rato do campo bendizia seu amigo de todo o coração e renegava sua má sorte. Enquanto assim se divertiam, um homem de repente abriu a porta. Espantados pelo ruído os dois ratos de lançaram temerosos a um buraco. Voltaram logo a buscar figos secos, porém outra pessoa entrou no lugar e, ao vê-la, os dois se precipitaram novamente atrás de um toco para se esconder. Então o rato do campo, esquecendo de sua fome, suspirou e disse ao rato da cidade:
- Adeus, amigo, vejo que comes até te fartar e que estás muito satisfeito; porém, é a preço de mil perigos e constantes temores. Eu, por minha vez, sou um pobretão e vivo mordiscando a cevada e o trigo, mas sem ter que fugir nem ter temores sobre nada.

É tua a decisão de escolher dispor de certos luxos e vantagens que sempre vão unidos a sustos e dificuldades, ou viver um pouco mais austeramente, mas com serenidade.
 
O rato e a rã

Um rato da terra se fez amigo de uma rã, para sua desgraça. A rã, obedecendo a intenções desviadas atou a pata do rato a sua própria pata. Marcharam então primeiro pela terra para comer trigo, logo se aproximaram da beira do pântano e a rã, dando um saldo, arrastou para o fundo o rato, enquanto ficava na água lançando seus conhecidos gritos. O azarado rato, guinchando na água, se afogou, ficando a flutuar atado à pata da rã. O viu um martim-pescador que voava por ali e agarrou o ratão com suas garras, arrastando junto a rã, que também serviu de alimento ao pássaro.

Toda ação que se faz com intenção de maldade, sempre termina contra o mesmo que a comete.
 
 
As lebres e as rãs

Reuniram-se um dia as lebres e se lamentavam entre si de levar uma vida tão precária e temerosa pois, com efeito, não eram elas vítimas dos homens, dos cães, das águias e outros animais?? Mais valia morrer de vez que viver no terror! Tomada esta resolução, se lançaram todas ao mesmo tempo a um lago para morrer afogadas.
Porém as rãs, que estavam sentadas ao redor do lago, quando ouviram o ruído das lebres se aproximando, saltaram assustadas na água. Então uma das lebres, a que parecia mais inteligente que as demais, disse:
- Alto companheiras. Não há porque nos apressarmos, pois vejam que há outros mais medrosos que nós!

O consolo dos desgraçados é encontrar outros em piores condições.