— Começa por narrar (após célebre proposição) o terrível temporal que se abatera sobre a frota de Enéias, quando em fuga do desastre de Tróia. Enéias havia escapado da matança levando seu pai (Anquises) às costas Tinha o príncipe reunido muitos guerreiros e com eles embarcado em direção às costas da Itália. Na borrasca, muitas das naus soçobram. A de Enéias e mais seis conseguem aportar num sítio da África, onde os navegantes encontram a próspera região de Cartago. Ali, Enéias conhece a rainha Dido, que lhe pede para contar sua história. o filho de Anquises começa, então, o relato de suas aventuras, que se abrem com os famosos versos:
O amor que Enéias desperta em Dido, constitui a grande passagem
lírica do imortal poema. Enéias conta para a rainha a tomada
de Tróia, o ardil concebido por Ulisses relata as viagens que empreendera
até chegar a Cartago. Dido, acometida de grande paixão, roga
a Enéias para não deixá-la. O príncipe, surdo
às súplicas, resolve continuar viagem. Dido, não resistindo
ao abandono, busca no suicídio alivio para sua desventura.
Segue o herói para a Sicília. Cultua a memória
de seu pai, visitando os Campos Elísios, lugar no qual os romanos
julgavam estar as almas dos mortos. Lá tem um colóquio com
o pai, que lhe mostra a raça de varões ilustres, os quais
descenderão de Enéias e farão a grandeza do povo latino
(6o. Livro).
Enfim, Enéias atinge o Lácio É bem acolhido pelo
rei latino, que lhe promete a sua filha única, Lavinia, herdeira
do trono. Com isso não concorda Turno, rei dos rútulos, povo
também de origem latina. Eclode a inevitável guerra. Ferem-se
vários combates, e, quando tudo indica a derrota dos troianos. Enéias
volta ao campo, munido de um escudo que lhe fizera Vulcano (o mesmo que
fizera a armadura de Aquiles), e muda a sorte da luta. Na última
batalha, um prélio singular entre os dois chefes se realiza. Enéias
é ferido pelos guerreiros adversários, mas Vênus, envolvida
numa nuvem escura, pensa-lhe a ferida. o herói se recupera, e volta
ao duelo, a espada de Turno se parte, e ele foge. o príncipe teucro
o persegue alcança-o e o mata.
A "Eneida" é considerada um misto da "Ilíada" e da "Odisséia".
Os seis primeiros livros lembram a "Odisséia", pois encerram as
aventuras e viagens do herói; os seis últimos, nos quais
se historiam os combates de Enéias na península itálica
lembram os feitos épicos da "Ilíada" Tal é a observação
feita por Sainte-llenve.
Vergílio, não tendo tempo de rever sua obra, recomendara
sua destruição no que não foi atendido por L. Vario
e Tuca, que avaliaram bem a sua importância.
O assunto da "Eneida" não é criação de
Virgílio. A tradição, que prende a origem de Roma
às lendas mitológicas, parece que foi introduzida na Itália
já pelos fins do 9 século antes de Cristo. Poetas como Ênio
e Névio conheciam-na, e o tema era do domínio popular.
Fonte: TAVARES, H. Teoria literária.
[s.d.e.]