Cantar de mio Cid
 onvém distinguir o "romance" do "poema", sendo esse último a grande epopéia do povo ibérico. Enquanto países como a França e a Itália já possuíam uma literatura mais culta, na Espanha até pouco antes do século 12, a literatura ainda era mais espontânea, e os "romances" constituíam seu núcleo ou espécie principal. Ao passo que o "roman" francês era um extenso poema, o "romance" espanhol caracterizava-se por ser um canto mais curto de natureza épica, cujo assunto comportava façanhas guerreiras de cavaleiros e heróis nas refregas contra os mouros, assunto tão ao sabor da imaginação e sensibilidade da gente peninsular. Dos "romances" de cunho histórico, "O Cid Campeador", pode-se dizer, encerra todo o substrato. Relataremos, em síntese, o argumento do "romance", e, em seguida, o da "epopéia".

Romance: As aventuras de Rodrigo ou Rui Dias de Bivar ou Vivar, que se iniciam com as queixas do pai deste, Diego Lainez, porque, ofendido pelo conde Lozano, não podia ir a forra, devido a sua idade avençada. Rodrigo, num duelo por ele provocado, mata o conde ofensor, apesar de amar a filha desse fidalgo, a bela Ximenes. Esta, conquanto também o ame, pede ao rei justiça e punição para o assassino do pai. Ninguém, no entanto, ousa bater-se com ele. Os mouros invadem o país. Rodrigo vai ao encontro deles, e os vence, aprisionando-lhes os principais chefes. Recebe, então, a denominação de "Cid, o Campeador", que significa "Senhor e Combatente". Finalmente, casa com Ximenes (Ximena).
 

Epopéia: Elaborada na altura da segunda metade do século XII, contendo cerca de 3.000 versos. Refere-se às proezas de Rodrigo Dias de Bivar, não se reportando, contudo, a mocidade do herói, e nem aos seus amores com a bela Ximena, o argumento do poema prende-se a fatos mais avançados, focalizando o protagonista em idade madura. Já está ele casado e com duas filhas. Devido à intriga e à inveja, perdera o favor real e fora banido. Por ordem do rei D. Afonso, a ninguém era permitido acolher ou dar hospedagem ao desterrado. ‘A frente de cem castelhanos, Cid realiza feitos notáveis contra os mouros. Depois de enviar vários presentes ao rei, consegue afinal o perdão. Após vários acontecimentos, é recebido na corte. Realiza-se o enlace das suas filhas Dona Elvira e Dona Sol com os infantes de Carrion, Diogo e Fernão Gonzales. Foram matrimônios infelizes por causa da vileza desses infantes que, após maltratá-las, deixaram-nas semimortas no carvalhal de Cerpea. Cid as vinga, pois ninguém poderia impunemente ofender o seu nome. Os casamentos são invalidados, podendo suas filhas contrair segundas núpcias, o que fazem, ligando-se a dois nobres de Navarra e Aragão.
O romance e a epopéia do  Cid inspiraram fortemente a imaginativa popular e a pena de grandes escritores.
 
Fonte: TAVARES, H. Teoria literária. [s.d.e.]